RIO DE JANEIRO - O artesanato é a poesia que sai do barro. E foi pelas mãos de uma artesã de mão-cheia, que tinha o cantar do galo como despertador e que chegava a andar 11 km a pé na beira da rodovia Rio-Bahia carregando suas peças para vender, que Minas Gerais e o mundo conheceram uma das riquezas mais belas já produzidas pelo Vale do Jequitinhonha: as chamadas “bonecas-moringa”.
O nome dela é Izabel Mendes da Cunha (1924-2014). Natural de Córrego Novo, uma pequena comunidade rural próxima a Itinga, a 645 km de Belo Horizonte, Dona Izabel – como ficou conhecida – completaria 100 anos no dia 3 de agosto. O ofício que ela aprendeu quando tinha apenas 7 anos observando a mãe, Vitalina, que criava utensílios domésticos como potes e panelas, se transformou em seu ganha-pão e foi perpetuado não só em sua família, mas entre vizinhos e amigos.
A mostra “Dona Izabel: 100 anos da Mestra do Vale do Jequitinhonha” apresenta não só um grande apanhado do trabalho dessa pioneira do artesanato em barro, como de outros artistas do Vale que foram inspirados por ela. São 300 peças, como as famosas bonecas, especialmente as noivas, além de panelas, potes, jarros, sem contar fotografias, vídeos e até um bate-papo entre criadora e criatura, ou seja, uma conversa imaginária entre Dona Izabel e uma de suas bonecas recriada por inteligência artificial. A sensação quando se adentra o museu é que o visitante está realmente colocando os pés no Vale do Jequitinhonha, com direito a poeira e até cheirinho de café.